quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Capítulo 13 - Uma Noite Antagônica

O tempo passava cada vez mais rápido desde o dia em que os cinco jovens haviam ouvido as explicações saírem das bocas de Jóhann e Leon. Estavam todos de volta à cidade de São Paulo. Leon havia dado-lhes o prazo de uma semana para que se preparassem antes da viagem para Amsterdã. No penúltimo dia de preparações, os cinco, por pedido de Marina, combinaram de se encontrar às 21h00min em frente ao MASP — o Museu de Arte de São Paulo. A noite estava razoavelmente quente, mas parecia poder esfriar a qualquer momento. A própria Marina foi a primeira a chegar, quinze minutos antes do horário marcado. Vestia um sobretudo pardo de lã pura sobre a camiseta branca e calça jeans azul-escura que usava. A sua "atmosfera" já não era mais a mesma de antes: um certo quê de amadurecimento penetrante tomava conta de sua personalidade. Mas ela ainda era, no fundo, a mesma garota que poderia ser infantil ou incoerente a qualquer momento, a mesma garota com dezessete anos chamada Marina; aquela lá, a dos cabelos muito cacheados.
Aos poucos, eles foram chegando: Luiz foi o primeiro a acompanhar Marina na espera pelos outros. Ele veio bem vestido, apesar de sua questionável situação financeira. O rapagão de dezoito anos apresentava-se todo de preto, exceto pela jaqueta vermelha aparentemente velha que vinha trazendo nas mãos.
Cumprimentou Marina com um beijo no rosto e disse:
— Será que é um bom momento pra dizer que você está congestionavelmente linda?
A garota, corando e dando um sorrisinho bobo, agradeceu, mas desviou o assunto em seguida.
— Não sei se é um bom momento ou não, mas ultimamente eu tenho andado muito pensativa. Leon e aquela espiral bizarra dele não me saem da cabeça. Jóhann e Isadora parecem esconder algo. E eu ainda tenho minhas dúvidas a respeito daquela garota Sara, mesmo que eu me lembre vagamente dela. Eu juro que, há um mês, viajar para Amsterdã era a última coisa que eu imaginava que ia fazer. Se bem que eu tenho a intuição de que alguma coisa inesperada ainda vai acontecer antes dessa viagem.
— Marina... Como você consegue ser tão fascinante?
Ela deu outro sorrisinho bobo, mas dessa vez não corou.
— Tá bom, tá bom, você, pelo jeito, não quer falar sobre o caso Sara — disse ela, rindo —, mas a reunião que eu marquei hoje é pra falar justamente sobre isso; ou melhor, eu vou apenas mostrar a vocês que eu sei coisas à respeito de assuntos muito importantes que demonstram as verdadeiras facetas desse tabuleiro obscuro onde nós somos as peças. Muita coisa vai acontecer em muito pouco tempo, e é melhor todos estarem preparados. Inclusive eu.
O garoto, surpreso e ao mesmo tempo confuso, imaginou que Marina estivesse fazendo algum tipo de piada — certamente, se fosse, tratava-se de uma das menos engraçadas.
— Haha... Ha...! — Luiz tentou forçar uma risada.
— O que foi? Qual é a graça?
"Então não foi uma piada!", concluiu ele, mentalmente.
Mais alguns minutos se passaram, dessa vez Cecília e Manuela chegavam ao local: ambas belamente trajadas: Cecília vinha com um vestido com listras brancas e pretas na horizontal, com um par de botas plataformas nos pés; Manuela vestia uma camiseta amarela da banda Sigur Rós, com a foto do Bebê Alien da capa do álbum Ágætis Byrjun estampado no peito, isto somado com a calça jeans preta e bem justa que usava — mas os cabelos vermelhos estavam bem ali, sempre encantando mais do que qualquer outra coisa.




— Boa noite! — disseram as duas, em uníssono.
Luiz, vendo as duas beldades se aproximarem, não pôde evitar outro comentário:
— Cara, eu estou dentro de um harém! Tomara que o Dante não chegue tão cedo!
Todos riram intensamente.
No céu azul-escuro, uma lua cheia brilhava singularmente. Luzes e faróis iam e vinham por todos os lados naquela Avenida Paulista angustiante, tanto pelo seu tamanho, quanto pelo significado dentro de toda a cidade. Todos esperavam Dante com inquietação, enquanto conversavam sobre assuntos triviais.
— Que camiseta esquisita é esta que você está usando, Manuela? — perguntou Marina, realmente sem ter o conhecimento do que se tratava aquele Bebê Alien.
— É da banda Sigur Rós — respondeu Manuela, com um cordial sorriso —, eles são islandeses, as músicas deles são muito boas. São instrumentais, com toques de guitarra e bateria, sei lá, é difícil encaixá-los em um único gênero, dizem que é pós-rock, mas o que eu sei é que é a minha banda favorita, de fato.
— Huumm... Interessante. — sussurrou Marina, vagamente.
— Está esfriando um pouco. — comentou Cecília.
— Dante... Ele está demorando. — soltou Luiz, contrariando a sua própria piada anterior.
Cerca de dez minutos silenciosos se passaram, e lá vinha o garoto Dante, numa calma e aparente autoconfiança jamais vistas antes: vestia uma calça jeans preta e uma simples camiseta branca sem estampa alguma; a barba, sempre malfeita, agora estava impecável — havia agora um brilho tão diferente no rapaz que Manuela, inevitavelmente, sentiu seus sentimentos revirarem-se dentro de si mesma.
Dante se aproximou e, acenando para todos, disse, com ternura:
— Olá, pessoal.
— Olá! — responderam todos.
Organizados um ao lado do outro, formando um círculo, sentados em um canto, sob o corpo principal do MASP, os cinco jovens estavam todos ali para decidirem, afinal, as suas vidas — levar ou não à sério os acontecimentos do dia 29 de Agosto de 1990 era algo extremamente definitivo e importante para o futuro que os aguardava. Marina, abrindo o "debate", falou, imponentemente:
— Senhoras e senhores...! — falou, rindo infantilmente — Essa espécie de reunião que eu marquei com vocês, na verdade, quer dizer mais coisas do que vocês imaginam. Primeiro vou deixar que falem — sim, muita gente já falou durante essa história, mas essas são as considerações finais —, e aí eu falarei por último, pois tenho uma informação extra dentro desse "jogo" no qual somos, forçadamente, as peças, de certo modo, manipuláveis!
E fez aquele sinal de aspas no ar com os dedos indicador e médio das duas mãos. Ninguém entendeu direito o sentido da palavra “jogo”, mas isto ia fazer mais sentido depois.
Trocas de olhares rápidos — Manuela e Dante, de súbito, sentiam calores imensos dentro de seus corações: a paixão dos dois, um pelo outro, parecia estar renascendo (apesar de nunca ter morrido completamente) naquela ocasião inoportuna. Havia todo um clima de parafernália no ar, uma parafernália de pensamentos suspeitos ou de emoções volúveis, todo mundo no meio da presença de uma desagradável falta de proximidade com relação aos outros. Isso soava estranho, mas era o que acontecia.
Na escuridão vasta e luminosa da noite, os jovens debatiam.
— Acho que devemos ter uma imensa dose de bom senso aqui — dizia Dante —, afinal, nós vimos Jóhann se tele transportar na nossa frente e ignorar esse fato é o mesmo que duvidar da própria realidade, isto é, quem nunca ouviu falar de Descartes e suas teorias sobre a impossibilidade de tudo? Tá, eu não quero entrar nesse papo, mas sejamos sinceros, se vamos duvidar do que aconteceu naquele dia, teremos que duvidar de qualquer coisa que aconteceu e vai acontecer na nossa vida. E isso, pelo menos por hora, não é ter bom senso. Não mesmo.
— Concordo — comentou Cecília —, e, apesar de isso me dar um frio na barriga bem incômodo, tenho vontade de esclarecer toda essa história da garota Sara de uma vez. Não há nada a perder, não pra mim; algo muito significativo, realmente não há.
— Sabemos que isso poderá ser arriscado — falou Manuela—, mas eu sinto que as intenções de Jóhann e Isadora, no fundo, são boas.
— Eu conheço aqueles dois a um tempo considerável — interveio Luiz —, creio que as intenções de ambos são boas, mas mesmo assim, devemos estar sempre com um pé atrás... Afinal, eles possuem poderes incompreensíveis e podem mudar de temperamento repentinamente: nessas horas, quem paga o pato somos nós.
Marina só observava, concordando (ou não!) com a cabeça a cada comentário feito. Aguardava o momento-chave para soltar a informação extra que possuía — talvez fosse um blefe; aliás, talvez ela estivesse blefando o tempo todo, desde o início; talvez ela não passasse de uma vigaristazinha querendo se aproveitar da indecisão humana para se sobressair; especulando ainda mais além, talvez ela fosse um ser sobre-humano assim como Jóhann e Isadora, com objetivos, razões e motivações duvidosas. Talvez.
A discussão continuava num ritmo quase frenético. Dante expressava suas opiniões de uma maneira raramente vista antes. Estava inspirado. De repente, quando o assuntou começou a se desvirtuar e parecer tomar um rumo mais descontraído, Marina os interrompeu, vendo ali a ocasião perfeita pela qual esperava. Olhou nos olhos de cada um, aqueles olhos castanho-claros tão especiais, tão infinitos.... Suspirou meigamente e começou a falar num tom suave, intrinsecamente vivaz e quase melancólico:
— Hum! Hum! Legal! Vocês com certeza já decidiram o futuro de vocês. Vão salvar a Sara, não é? Eu já imaginava que chegariam nesse consenso. Certo, certo. Vou olhar bem pra cada um de vocês aqui e dizer, do fundo do meu coração: vai ser uma experiência inesquecível! Mas falta um detalhe, só um. Sim, sim. A coisa toda não é só isso que parece. Toda essa historinha da busca por Sara não é mentira, mas eu acho que eu poderia chamar ela de pretexto; sim, sim, um pretexto praquele diretor Leon e sua agência misteriosa nos vigiarem bem debaixo dos narizes deles. Pois é. O que eles realmente querem não é salvar Sara. Quer dizer: não são só eles que estão atrás de Sara e atrás de nós. Existem outras agências, de fato, mas é melhor detalhá-las uma a uma em outra oportunidade. Eu faço parte integral de uma delas — mas não se preocupem, eu não tenho esses “poderes”, pelo menos acredito que não, até porque eu não preciso deles. As citadas agências, na realidade, se preocupam com um fator comum: a dominação do planeta através de ameaças bioterroristas, ao mesmo tempo em que querem usar estas ameaças para forçar as pessoas a cuidarem dos problemas ambientais mais remotos — e, não, eu não estou falando de nenhum problema específico, até porque isto seria uma horrível generalização. Tirando esse fator comum, as agências possuem vários pontos divergentes, e, comparando a minha agência com a de Leon, talvez o mais importante deles seja a questão relacionada à observação humana. É uma história muito macabra. Existe um boato sobre mutações genéticas e lavagens cerebrais rondando a agência de Leon, mas eu não posso afirmar nada. Eu só posso afirmar uma coisa, por enquanto: eu sou uma espiã dentro da agência de Leon.
Dante foi o primeiro a questioná-la, depois daquele tiroteio de palavras bizarras e concepções questionáveis:
— Marina, me responda uma coisa: algumas dessas agências têm nome, por acaso?
— Sim.
— E qual o nome da agência de Leon?
Eve. Não sei o significado, mas o nome é esse.
— Sei, sei... E o nome da sua agência?
Delphia. Eu sei que parece uma grande maluquice, mas é verdade. Por hora não dá pra explicar cada detalhe, desde a origem (e o motivo da origem) dessas agências, mas vocês ainda vão ter a chance de ouvir. O mais importante é que vocês tenham em mente o seguinte: eles podem estar nos observando agora; eles podem estar nos observando o tempo todo. Eles querem algo de nós, não sei ao certo o quê. Sara é um pretexto. Guardem isso na cabeça de vocês.
Um riso ecoava dentro de Marina. Um riso puro de quem conseguia entortar a mente dos outros. Se era um riso de mentira, ou de enganação, não havia como saber. Mas tudo havia ficado anormalmente torto. E as mentes dos jovens ali — inclusive a dela —, estavam bem tortas.

6 comentários:

Anônimo disse...

ETA brisa.. brincadeira ta legal, fora algumas palavras d fresco.
Espero q o alberto caeiro baixo logo em vc.
para q vc termine este livro logo

Anônimo disse...

Uau! Bacana. O finalzinho é bem interessante e deixa nossa imaginação soltinha....

Anônimo disse...

lol final super ótimo mega ultra foda!!!!!

Cara... esse final deixa muitas coisas novas no ar.... e muito mais complicado de manter a ideia.... (quero aulas de redação! xDDD)

Espero que continue assim (confuso nao... muito foda) ^^

Anônimo disse...

cap. mutio bom, isso pode mto bem se tornar um livro!

Anônimo disse...

Muito boa a idéia das agências, gostei do final aberto

Alan Luiz disse...

Obrigado.