sábado, 9 de agosto de 2008

Capítulo 11 - Aurora - Parte Final

— Espere um momento! — disse Manuela — Se nós cinco somos as crianças que ela devia ter visto para que pudesse se livrar da doença, e ela provavelmente já viu quatro de nós, só nos resta irmos até ela e tirar isso à limpo de uma vez por todas!
Jóhann silenciou-se. Sim, era verdade, mas dentro de todo esse cenário bizarro, faltavam-lhe informações.
— Escute, Manuela. As coisas não são tão fáceis assim. Por mais que sejamos algo que se aproxima de deuses, Isadora e eu infelizmente não sabemos qual é a localização atual de Sara, nem mesmo qual de vocês cinco é o indivíduo que faltou ser visto por ela. Só que as explicações maiores ainda virão, até mesmo para nós dois. O diretor está chegando.
Todos se entreolharam, inquietos. O tal diretor... Se Jóhann e Isadora eram quase deuses, o que poderia ser dito sobre esse diretor? Quer dizer: de onde haviam saído essas criaturas sobre-humanas que, repentinamente, vinham com histórias sobre acontecimentos nada comuns, como se a realidade fosse cheia dessas coisas totalmente anormais? Pois, se para quase cem por cento das pessoas no mundo a vida é uma chatice, o que faria Manuela, Dante, Marina, Cecília e Luiz serem seres tão importantes ao ponto de que essas coisas incríveis viessem a acontecer justamente com eles? Essas coisas simplesmente não ocorrem na vida real. De fato, não.
Jóhann se levantou e foi à cozinha. Isadora foi fumar na janela. Os cinco jovens estavam inicialmente quietos, mas Luiz tentou começar uma conversa:
— Ei... O que vocês acham de tudo isso? Nessas horas a gente fica tão surpreendido que nem dá pra esboçar uma reação direito. Pelo menos pra mim é assim.
— É evidentemente estranho — comentou Marina —, mas já que estamos nessa situação, não há como continuar sendo incrédulo quanto à isso, a não ser que você queira acreditar que está sofrendo de esquizofrenia.
Dante riu:
— Sim, e seria muito improvável que nós cinco estivéssemos sofrendo disso ao mesmo tempo. O jeito é aceitar a realidade absurda que surge e seguir em frente. Se bem que, creio eu, com o tempo, qualquer coisa no mundo acaba ficando monótona... Por isso que o ser humano tenta variar tanto a sua rotina.
— Realmente... — falou Cecília, ficando de pé e sentando-se na poltrona antes ocupada por Jóhann — Não dá pra sair correndo de medo. Mesmo assim, tudo é possível, então a possibilidade deles serem charlatães é totalmente concebível, não?
Manuela, para a surpresa de todos, começou a chorar com um tom alto de angústia.
— Eu... Eu sei que a culpa é minha! Só pode ser! Eu não me lembro de ter visto nenhuma garota como essa tal Sara no dia do aniversário de Marina! A criança que falta só pode ser eu!
Todos foram na direção dela para consolá-la.
— Mas, Manu... — disse Cecília, em tom brando — Nem eu me lembro. Pode ser qualquer um de nós, ora. Sara estava olhando para muitas crianças ao mesmo tempo. A única que Jóhann disse que certamente a viu foi Marina, e ninguém mais. Nada é certo ainda, não se culpe antes da hora.
A garota ruiva levantou o rosto cheio de lágrimas e disse, em meio a soluços:
— Mesmo assim... Ugh!... Eu sei que sou eu... Eu posso sentir! — e desabou em lágrimas pesadas.


Do lado de fora começava a chover. O ambiente daquela casa externamente branca se transmutava em algo cada vez mais enlevante. O cheiro de vapores desconhecidos invadiam os sentidos dos cinco jovens. Uma música começava a tocar da cozinha: era Canon em Ré Maior, de Johann Pachelbel, um dos compositores favoritos de Jóhann, tanto que ambos possuíam até o mesmo nome. Já se passavam das cinco horas da tarde. O dia estava ficando cada vez mais cinzento.
Na sala, Dante resolveu tentar dialogar com Manuela, mesmo depois de ambos terem "cortado relações" no episódio do encontro inesperado no ônibus.
— Você imaginava que, mesmo depois de termos decidido dar um tempo, íamos estar aqui, um ao lado do outro, dentro de toda essa maluquice?
A garota, pensativa, falou, enquanto apertava as mãos sobre os joelhos:
— Eu não consigo entender, Dante... Tem momentos em que eu sinto que errei ao ter te falado tudo aquilo, e tem momentos em que eu me sinto bem por me sentir livre de você. É tudo muito confuso, eu sou uma pessoa confusa, você sabe. Uuufff! Viver não é fácil, essa é a verdade.
— Entendo. Mas não pense que isso acontece só com você. Todo mundo tem seus momentos de erros e acertos, de certezas e incertezas, de achar que foi compreendido e de achar que não foi. O mundo se resume à isso. Não, não, acho que não, o mundo é mais que isso... Mas a verdade mesmo é que não passamos de seres humanos. Agora, aqueles dois, Isadora e Jóhann, bom, eu francamente fico sem palavras diante de coisas além da minha compreensão.
— Sei lá... Eu ainda estou esperando pelo momento em que eles irão parar e dizer que tudo isso não passa de uma grande brincadeira de mal gosto...
Os dois olharam-se, rindo.
Instantes depois, Jóhann e Isadora voltavam à sala. A chuva continuava cada vez mais forte do lado de fora.
— Ele já está aqui. — sussurrou Jóhann.
A campainha tocou em seguida. Isadora saiu para abrir o portão. Lá fora, Leon — o velho esquisito, com longos cabelos grisalhos e a espiral na testa — encontrava-se cercado por quatro homens inteiramente vestidos de branco, talvez fossem guarda-costas ou algo do tipo. Leon e os quatro homens foram conduzidos por Isadora para dentro da residência.
Quando Dante viu o homem da espiral na testa, assustou-se: então, de fato, tudo estava relacionado. Leon, homem que havia aparecido em seus sonhos era realmente o tal "diretor".
— Boa tarde à todos. Meu nome é Leon. Sou o diretor da agência que recruta indivíduos como Isadora e Jóhann, que são atualmente os únicos disponíveis para esta missão. Foi difícil chegar aqui, Ivan não sabia de fato qual era o caminho. Na verdade, já podíamos ter advindo aqui muito antes, mas eu tenho minhas tendências de querer agir como um ser humano normal. Creio que Jóhann já explicou-lhes tudo. A informação adicional que eu trago, no entanto, é vaga, mas mesmo assim nos ajudará relevantemente. Aparentemente, Sara se encontra em uma região na Europa entre a Bélgica e a Holanda. De acordo com a fonte, ela está vivendo — dormindo — numa mansão, onde mora com uma velha senhora que toma conta dela com muito carinho. É estranho, pois, como é possível que saibamos como é o lugar e quem são as pessoas que vivem nele sem sabermos exatamente a localização? É que, como eu poderia dizer, a minha fonte é um tanto quanto desconfiada e vive mudando de opinião e temperamento. Mas, isso não tem importância. A determinação fará com que encontremos quaisquer coisas que queiramos. É bom partirmos o quanto antes. A cada minuto que se passa, Sara corre o risco de entrar em colapso onírico e isto acarretará em graves problemas futuros para ela. É triste, mas eu me culpo diariamente por não ter me concentrado em ajudá-la antes, mas isto seria impossível, o momento de vocês se unirem é este, agora, e nenhum outro. Vamos, meus jovens. Levantem-se. Está na hora.
Surpresos, todos se levantaram — a coisa ficava cada vez mais estranha e incompreensível. Leon, seus homens e Isadora saíram, seguidos pelos cinco jovens que andavam agrupados sob a chuva; Jóhann foi o último a sair, fechando a porta atrás de si. Olhando para os jovens ao mesmo tempo em que esboçava um sutil sorriso no rosto, Leon apontou com a mão para os veículos estacionados do lado de fora do portão: além do Fiat Uno da mãe de Cecília, podia-se ver uma Van em estado de conservação questionável e, logo à frente dela, havia uma lustrosa Ferrari Enzo prateada que parecia mais e mais atraente à cada gota de chuva que lhe atingia.
Apesar de toda a continuidade dos acontecimentos, havia restado uma pergunta gritante no ar: onde estariam os verdadeiros donos daquela casa, os amigos de Cecília? Que tipo de ocorrência teria feito com que eles tivessem eventualmente abdicado da posse da casa para concederem-na a indivíduos estranhos e desconhecidos para que esses realizassem uma reunião sobre problemas sobre-humanos? Essa questão, de repente, pareceu não importar mais nem para Cecília, nem para nenhum dos cinco jovens ali. Talvez ninguém precisasse saber. Talvez isso não fosse fazer a mínima diferença dali para frente. Fingir que nada aconteceu era mais fácil, mais coerente, mais saudável... Mas provavelmente não era a coisa certa a se fazer.

6 comentários:

Anônimo disse...

Capítulo muito bom, uniu todos os personagens principais em um objetivo comum.... vamos ver a continuação.... (será que Jóhann matou os verdadeiros donos da casa? será que eles sao uma organização maligna que quer usar os cinco jovens para alguma coisa macabra??)
Ahhh Jóhann tem muito bom gosto, Cânon é muito bonita. ^^

Anônimo disse...

PS: geralmente nos falamos pra vc entregar o outro capitulo rapido, mas hoje eu te falo pra fazer os capitulos como vc quiser, e usando o tempo que precisar, pq agora é epoca de aulas, ai fica tudo corrido, e vc nao pode ir fazendo sua historia de qualquer jeito, pq senao ela pode ficar ruim. ^^

Anônimo disse...

um cap., q jah era esperado(a organização das informações, e a busca por Sara), msm assim ficou mto bom, semprte no msm ritmo de narrativa

Anônimo disse...

A presença de Leon mosttrou-se muito interessante. Capítulo excelente.

Anônimo disse...

O capítulo está muito bom Lost, agora deu pra sentir uma boa continuidade na história ^_^
E faça os capítulos no ritmo que quiser, assim pode pensar melhor e dedicar mais tempo a eles.

Anônimo disse...

Ok, ok.
Demorei demais para ler a continuação da sua fic, porém, jah estou aqui!
Meu, continua logo essa fic!
Tah muito show.
Tah muita boa a história e o enredo e etc. ^^