sexta-feira, 25 de julho de 2008

Capítulo 9 - Aurora - Parte 1

Três e quarenta da tarde, sexta-feira. O dia estava exaustivamente quente. Já haviam se passado duas semanas desde que Manuela e Dante haviam se separado, no dia 24 de Junho.
— É aqui! — exclamou Cecília ao parar o Fiat Uno que dirigia na frente da (razoavelmente) grande casa de seus amigos na pequena cidadezinha próxima de Itu: Cabreúva — É aqui que eles moram, Manu!
— Até que enfim! — comentou Manuela — Tá certo que eu não sei dirigir, mas você no volante é uma perdição. Não vou falar que foi graças à Deus que chegamos à salvo, mas acho que, pelo menos dessa vez, ele deu uma ajudinha!
— Haha! Você é mesmo uma mal-agradecida!
— Estou brincando! Só brincando, Cecília!
Ambas desceram do veículo. Abrindo o porta-malas semi-emperrado, Cecília tirou uma grande mochila e pôs nas costas. Manuela apanhou uma mala de tamanho mediano e que, de quebra, tinha rodinhas. As duas encaminharam-se até o grandioso portão de entrada (que era grande, mas com uma certa "aura" de simplicidade — e tocaram a campainha. Esperaram. Manuela olhou para o sol escaldante; Cecília observava Manuela e via o suor a escorrer quase que sensualmente pelo rosto da amiga. "Ela é tão... Apreciável!", pensou Cecília, a admirar a beleza da garota ruiva mesmo num momento como aquele. Manuela baixou os olhos e encontrou os de Cecília a observá-la tal qual estivesse hipnotizada.
— O que... foi? — perguntou Manuela.
— N-nada! — falou Cecília, corando e desviando o olhar imediatamente. Virou-se para a casa e pôde ver alguém a atravessar o vasto quintal gramado vindo em direção ao portão. Era um homem franzino e misterioso, vinha apoiando-se numa bengala e, mesmo naquele calor que beirava o título de insuportável, usava um chamativo sobretudo marrom.
— Ele é... Um dos seus amigos? — perguntou Manuela à Cecília.
A outra, muito séria, respondeu:
— Não. Com certeza não.
O homem aproximou-se do portão e abriu-o. Olhou para as duas belas garotas e sorriu.
— Sejam bem-vindas. Nós estávamos esperando-as.
Cecília, confusa, não sabia exatamente o que perguntar. Manuela, então, foi a primeira a falar:
— O senhor, por um acaso, mora aqui ou é parente de alguém?
— No momento, estou morando aqui. Chamo-me Jóhann. É um prazer vê-las depois de tanto tempo. Sem mais delongas, eu apreciaria muito se as duas moças entrassem o mais rápido possível. Lá dentro, garanto-lhes, é muito mais seguro do que aqui fora.
Cecília tentou se lembrar de quando havia sido a vez em que havia visto este homem, mas tinha uma certeza quase absoluta de que jamais o vira antes. Ele virou-se e começou a caminhar freneticamente em direção à casa. As duas garotas o seguiram. Tratava-se de uma construção peculiar: provavelmente com uma área de cem metros quadrados; era alta, com dois andares, telhado cinza, as paredes de fora pintadas impecavelmente de branco: era algo externamente encantador, definitivamente. Jóhann abriu a porta: logo de cara, via-se a sala de estar — e ali encontravam-se um consideráveis pessoas.
— Creio que vocês duas... — começou a falar Jóhann — Já conhecem alguns desses indivíduos.
E os indivíduos eram quatro: Isadora, Luiz, Dante e Marina. Estavam todos ali confortavelmente sentados no espaçoso sofá branco. E não havia nenhum sinal dos verdadeiros donos da casa, os amigos de Cecília.
— Eu não estou entendendo nada. — disse Cecília — O que eles estão fazendo aqui? Onde estão as pessoas que moram nessa casa realmente?
Uma risada cômica começou a irromper os ares. Isadora levantara-se do sofá e ria, ria profundamente, enquanto fumava um cigarro. Foi até Cecília e parou diante dela.
— É muito divertido ver quando as pessoas ficam assim perdidas, sem saber de nada. Eu não consigo evitar, eu rio, rio como se tivesse ouvindo a piada mais engraçada do mundo. Mas você não merece ser motivo de piada, pequena Cecília. Você merece saber. Os seus amigos não moram mais aqui.
— Como assim não moram mais? Eu liguei pra cá pouco tempo antes de sair de casa. O Mário atendeu e me disse que estariam esperando exactamente aqui! Eu não sei o que está acontecendo, mas isso não está me cheirando nada bem.
— Hihi! Haha! Hahahaha! Eu não devia rir num momento desse, não devia! Até porque a verdade é dura. Eles estão mortos, Cecília. Mortos!
Cecília foi bombardeada; não acreditava naquilo, mas sentia que poderia muito bem ser verdade, já que estava frente a frente com pessoas que não deveriam estar ali.
— Não é possível... Isso não aconteceu!
— Ninguém morreu. — falou Jóhann — Eu vou explicar à vocês tudo que vocês vão precisar saber daqui pra frente.
Jóhann, assumindo as rédeas da situação, pediu que Cecília e Manuela se sentassem. Ao mesmo tempo lançou um olhar repreendedor à Isadora. Um silêncio incômodo perdurou naquela sala durante dois minutos. Jóhann se sentou numa poltrona, virada de frente para o sofá branco onde todos estavam sentados. Isadora pegou um banquinho e posicionou-se ao lado do islandês. Era hora das explicações. Todas elas.
— Antes de tudo — iniciou Jóhann — Gostaria de apresentar às duas garotas, um de nossos pupilos, Luiz — e apontou para o rapaz de cabelos compridos — Luiz, essas são Cecília e Manuela. Vamos aos esclarecimentos. Comecemos pela jovem Marina que já sabe de praticamente tudo, e que, aliás, deve ser aplaudida aqui devido à sua atuação no encontro que realizou com as outras duas moças aqui presentes no Terminal Bandeira. Aquilo foi brilhante, afinal, dizer que havia fugido de casa por motivos familiares e ser convincente neste argumento da maneira como você foi (já que os reais motivos eram outros) é uma tarefa que apresenta certa dificuldade para que seja realizada.

Jóhann referia-se ao encontro marcado por Marina no dia 24 de Junho, dia em que havia sido vista por Cecília e Manuela (e que também havia sido raptada, ao anoitecer, por Jóhann e Isadora), deixando apenas a metade de uma foto, com o local, o dia e o horário do encontro: às 17hs, no Terminal Bandeira, seis dias após o ocorrido. E, de fato, Manuela e Cecília compareceram no dia marcado — no caso, era 30 de Junho. Porém, esse acontecimento será mais detalhadamente tratado nos próximos capítulos.

— O que podemos dizer da jovem Marina? — continuou Jóhann — Ela é a paixão-mor de Isadora, e, como se não bastasse, é a terceira pessoa mais inteligente aqui presente (já que eu e Isadora somos o primeiro e o segundo lugar, respectivamente). Ela chamou nossa atenção pela primeira vez no dia de seu aniversário de nove anos; de lá para cá, não desgrudamos mais os olhos dela. A maioria aqui deve se perguntar como nós iríamos prestar atenção nela sem que a própria percebesse. É simples. Eu e Isadora somos deuses dentro dessa realidade inconstante. Talvez não deuses completos, já que nos falta a onisciência, mas temos uma quase completa onipresença e uma onipotência bastante desenvolvida — sim, meus caros, nós podemos fazer quase tudo. Voltando...
— Espera aí...! — interrompeu Manuela — Você quer que a gente acredite nisso de verdade? Que palhaçada é essa agora?
— Eu posso mostrar. Talvez não funcione da maneira mais eficiente possível, mas eu posso mostrar.
— Estou olhando.
Antes que Manuela pudesse piscar os olhos, Jóhann havia sumido da poltrona e estava, agora, sentado ao lado dela. Outro instante depois, estava de volta à poltrona. Boquiaberta, a garota não tinha mais como negar. Sentia medo agora, e talvez por isso, preferiu esperar que o homem terminasse as explanações.
— Creio que lhe convenci. A você e à sua amiga Cecília. Os demais já estão devidamente à par no que diz respeito às nossas identidades. Eu poderia retornar à minha fala agora?
— S-sim.
— Perfeito. Bom, como eu ia dizendo anteriormente... Isadora, será que você se lembra... Onde eu estava mesmo?!

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do capítulo, espero ver as explicações no próximo

Anônimo disse...

Bom capítulo... mas eu ainda sinto medo dessa galera virar uma liga que luta contra um ser maligno alienigena. xDDD
Espero as explicações do próximo e o que realmente eles vao fazer de agora em diante.

Anônimo disse...

lol
pelo visto a história não vai se encaminhar para luta, mas sim para deduções e raciocínio lógico
mas eh apenas uma hipótese...
capítulo muito bom esse, achei um dos melhores até agora

Anônimo disse...

Espero ver explicações consideráveis nos próximos capítulos.