sábado, 19 de julho de 2008

Capítulo 8 - O Sonho

Na triste madrugada do vigésimo quarto dia do mês de Junho daquele ano, segurando uma garrafa de vodka na mão e olhando fixamente para o velho prédio do colégio estadual onde havia estudado no ensino médio, Dante, horrorizado por saber que teria que aturar a si mesmo o resto da vida, estava quase embriagado.
"Que merda! Que merda! Será que a culpa é minha? Será que eu mereço que a culpa seja minha?" — e foram-se mais alguns goles de vodka goela abaixo. Dante começou a andar, cambaleante e desordenado, se segurando nas grades que cercavam o colégio, bebendo vodka a cada intervalo de quinze segundos, sem nada na cabeça; não, na verdade havia uma única coisa em sua mente: Manuela, a ruiva. Já nem importava-se mais com a morte do pai. Só a vermelhidão de Manuela tomava-lhe conta do pensamento. Tropeçando em alguma coisa, o garoto foi ao chão. E alguma poucas lágrimas foram também.
Com esforço, ficou de pé mais uma vez. Seu estômago começou a revirar, a ânsia veio e o vômito saiu. Mais lágrimas foram junto. "Não tenho com quem recorrer! Não tenho com quem interagir!" Sentou-se no chão, de costas para a grade. Deu uma última boa golada de vodka e levantou a cabeça para o céu. "O poço ainda pode ser mais fundo... Não é?" E adormeceu ali instantaneamente.
Assim, o jovem Dante teve o sonho, o sonho que mudaria sua vida. Ele via-se numa vasta e interminável superfície branca — sobre a sua cabeça, um imenso céu num tom laranja-claro; subitamente, uma mão emergiu do solo alvo e, um instante depois, um corpo inteiro surgia diante de Dante. Era um velho esquisito — nem bem vestido, nem mal vestido — , com longos cabelos grisalhos, uma face estática e peculiar, dono de um considerável porte físico, devia ter por volta de um metro e oitenta e cinco de altura. No entanto, o que mais chamava a atenção nele era a estranha marca ou cicatriz em forma tortusamente espiral que tinha na testa.
— Olá! — disse o velho — Meu nome é Leon. Talvez você não faça idéia de quantas pessoas existam no mundo. Talvez você não faça idéia do tamanho de seu potencial. Talvez você não faça idéia de como seja a morte. Mas é importante que você comece a pensar sobre essas coisas.
Leon colocou as mãos em cima dos ombros de Dante.
— Por... quê? — perguntou o garoto.
O velho, dessa vez tirando as mãos que estavam sobre os ombros de Dante, riu. Seguidamente, proferiu:
— Isto não é um sonho, se é que você não percebeu. Você é um ser humano comum, como tantos outros bilhões. Tem noção? Bilhões! Isso sem comparar com o tamanho do universo inteiro... Você é menos que nada, meu rapaz! Pelo menos desse ponto de vista, mas... Não há nada que a mais insignificante pulga não possa fazer se nela houver determinação e força de vontade, sabe como é, é chato dizer isso mas muitos daqueles livros de auto-ajuda que suas tias lêem podem ter um certo fundo de verdade... Porém, deve-se dizer aqui que a morte, tanto quanto a vida, é uma peça misteriosamente essencial no que diz respeito à caracterização absoluta de um ser humano. Compreende? Juntar essas três questões — a insignificância inegável, a determinação inesgotável e a morte inevitável — e trazê-las a você é um favor que estou fazendo. Guarde isso com sabedoria.
Houve um clarão. O sonho terminara. Dante abriu os olhos e deparou-se com o nascer do sol. As palavras de Leon ainda ressoavam em sua mente: "Guarde com sabedoria..." Levantou-se e, lembrando-se das três questões, pensou consigo mesmo: "Não, Leon. Seria egoísmo se preocupar somente com essas três questões dentro desse mundo tão diverso. Contudo... Eu estaria sendo muito mais egoísta se continuasse nessa minha tentativa de querer esquecer os meus problemas. Vou usar a pouca sabedoria que tenho e vou, um dia, se isso for possível, retribuir esse seu favor!"
— Pelo jeito você já entendeu. — uma voz acabava de chegar aos ouvidos de Dante. Era Leon, em carne e osso, sentado bem ali ao seu lado, com as mesmas roupas, com a mesma aparência, com a mesma espiral na testa.
— O quê? Entendi o quê? — interrogou Dante, surpreso.
O velho levantou num salto, dizendo:
— Você entendeu a si mesmo. Apenas isso. — virou as costas para Dante e, acenando com a mão direita, despediu-se: — Até a próxima!
— Espere! — gritou Dante — Como você sabia...? De onde você veio? De onde você veio, Leon? Quem é você realmente?
— Sou só um amigo, mas não se preocupe com isso no momento. Por hora, pense bastante em como irá retribuir o favor que fiz a você!
O velho então começou a caminhar com estranha leveza, mas seus passos eram incompreensivelmente rápidos. Dante ficou apenas observando-o se distanciar, percebendo ao mesmo tempo que, a partir daquele momento, a sua "caracterização como ser humano" nunca mais seria a mesma. "Obrigado... Leon."

6 comentários:

Anônimo disse...

Como vc mesmo disse, não é um capítulo emocionante (mas tbm, se todo capitulo for emocionante, a história nao anda direito), mas é um capítulo interessante, introduzindo mais um personagem.

A história é sua, mas tome cuidado com muitos personagens, o melhor exemplo disso sao as novelas, que de tantos personagens acabam ficando ruins, pq é dificil ligar todos eles.

Anônimo disse...

LOL Nem lembrava desse cara^^

Anônimo disse...

Interessantes as três questões que Leon apresentou.

Anônimo disse...

Pelo jeito ele(Leon) eh outro com "poderes" sobrenaturais

Anônimo disse...

Capítulo muito legal, quero ver logo quais são os poderes dos "deuses modernos" ^_^

Anônimo disse...

Huum, non foi o melhor, nem o pior.
Mas tah muito bom!