sexta-feira, 4 de julho de 2008

Capítulo 6 - A Vez Sombria de Uma Sombra

A poeira e o sol: aquele sol desenhado na parede do quarto de Manuela, um desenho com traços rudes mas simpáticos, possivelmente esperando por retoques finais. A garota de cabelos ruivos ainda segurava a foto da enigmática Marina nas mãos, tentando entender o que fazia aquele rosto ser a coisa tão profunda e chamativa que era. Cecília, na cozinha, cozinhava ovos. Eram quase dez horas da noite, ainda daquele mesmo dia.
Manuela suspirou longamente e imaginou, de repente, o que Dante teria feito desde o momento em que haviam se separado no ônibus. "Do jeito que ele é, ou fez alguma besteira, ou está chorando no travesseiro — o que não deixa de ser uma besteira também!", pensou a garota. Pôs as duas mãos no rosto, suspirou mais uma vez e foi tomar um banho.
— Cecília! — chamou — Vou ir pro chuveiro... Se eu demorar muito, me avise!
A amiga exclamou uma resposta positiva, rindo.
A água quente escorrendo pelo seu corpo nu dava-lhe um prazer peculiar. Era uma sensação acolhedora, o calor da água a fazia se sentir segura; sim, segura, mas, simultaneamente livre, livre para criar mundos e situações em sua mente. A criatividade transbordava. Toda a beleza, oculta ou não, das coisas, parecia desmergulhar em todas as direções. E começavam a vir...: primeiro um rinoceronte sonolento; depois, uma mulher com roupas esquisitas, rodeada por encanamentos; uma geladeira apodrecida; um homem que quase se assemelhava a um mendigo; e, por fim, uma gama amontoada de situações aparentemente variáveis, onde tudo tendia a acabar em explosões, tragédias e destruições. Mas, subitamente, Manuela não viu mais nada: só uma imensa escuridão, tão grande que, de quebra, a fez perder a consciência.
Cecília, ouvindo um barulho alto vindo do banheiro, correu até lá, abriu a porta do boxe e se deparou, horrorizada, com Manuela ali, caída no piso, convulsiva.
— Manu! Manuela! — Cecília gritava, desesperada. Desligou o chuveiro e, chorando, esperou que as contrações da amiga parassem, o que não aconteceu: a ruiva continuava a sacudir-se involuntariamente — Manuela, por favor, volta! Volta pra mim!
Cerca de cinco minutos se passaram e, aliviada, Cecília cobriu Manuela com um roupão ao ver as contrações se acalmarem. Levantou-a e colocou-a na cama do quarto, sentado-se na beirada. Observou bem o corpo desacordado da garota: sempre havia sentido uma certa atração física por ela. Um calor furtivo tomou conta de Cecília naquele instante. Sorrateiramente, subiu na cama, posicionando-se de bruços sobre Manuela, ficando a vislumbrar, bem de perto, aquele rosto doce e belíssimo envolvido pelos cabelos vermelhos meteóricos (mas sem o lado efêmero do significado desta palavra).
— Nariz bonitinho... — sussurrou Cecília — A cor da sua pele... Esses cabelos tão apaixonantes... Essa sua boca... Não sei se seria justo fazer isso agora, mas... Eu não consigo evitar.
E, assim, Cecília beijou com suavidade os dóceis lábios de Manuela, dando-lhe, em seguida, um beijo carinhoso na testa. Desceu da cama e, fechando a porta do quarto ao sair, murmurou:
— Volte logo, garota vermelha.
Cecília foi até a sala, e, no meio daquele silêncio, a campainha tocou.
— Quem é? — perguntou ela.
Uma voz masculina do outro lado da porta respondeu:
— Sou eu! Dante!
Ela abriu a porta e viu Dante todo encharcado e sem fôlego.
— O que foi? — ela o questionou.
— Preciso... — ele parou para respirar — De ajuda.
— Por quê? O que aconteceu?
— Não é um bom momento pra falar. Não agora.
— Então, você não entra.
Ela foi fechando a porta, mas Dante segurou-a.
— Cecília, por favor. Eu fiz uma besteira enorme e não tenho como contar com ninguém, só com vocês duas. Por favor. É a última coisa que eu peço.
— Dante... eu entendo. A gente se coonhece há um bom tempo, e você sabe que nós te ajudaremos sempre que for necessário. Mas, no momento, não seria bom que você e a Manuela se vissem de novo, então, a não ser que você abra o jogo de uma vez, é melhor ir embora.
O garoto fechou os olhos, pensou e decidiu falar:
— Está bem. Eu... eu acabei de matar o meu pai!
— O quê? Você endoidou?
— Eu o matei, Cecília, eu o matei! Mas foi em legítima defesa! A arma era dele, eu o matei e joguei ela fora!
Razoavelmente chocada, ela dexou-o entrar.
— Tá bom, Dante, tá bom. Hoje eu tive um dia pesado, então, me explique uma coisa.
— Estou ouvindo.
— Como você pode provar que tudo isso que você me falou não passa de um pretexto pra que você possa ver a Manuela de novo?
— O quê? De onde você tirou isso?
— Dessa sua cara cínica. Não sei como ela te aguentou todo esse tempo. Cadê o seu caráter, garoto?
— Depois, quem endoidou fui eu... Se você quiser, eu te levo pra ver o cadáver dele agora mesmo!
— Não precisa.
— Ah, não?
— Não. Eu posso ver o sangue.
— Sangue? Onde?
— Em toda parte. O mundo é feito de sangue, Dante. O seu pai merecia morrer e você sabe disso. Pare de tentar controlar a situação. As coisas vão acontecer, e relaxar é a melhor coisa que você pode fazer no momento.
Ela segurou a mão dele, ambos sentaram-se no sofá e olhou-o nos olhos profundamente.
— Vá embora. Fique frio. Você não tem o que temer, nem mesmo a morte. Todo mundo morre um dia. E todo mundo sabe disso.
Eis que Dante se levantou e sem falar palavra alguma, caminhou até a porta e saiu, fechando-a devagar.
Cecília se espreguiçou, respirou fundo. E sorriu.

5 comentários:

Anônimo disse...

Cara.... Muito Bom


Gostei muito do capítulo, o final entao ficou bem legal, não pensei que o Dante iria ir embora....

Anônimo disse...

Gostei deste capitulo, a história está muito boa..

Mas..
Desculpa falar, porém, este capitulo está um pouco menos da sua capacidade. Vc escreve melhor!
mas o capitulo está muito bom, gostei dele.
Mas, vc pode escrever melhores, tenho certeza ^^
Desculpa pela critica ^^

Anônimo disse...

Final bem inesperado o/

Anônimo disse...

realmente, principalmente ao saer que cecilia gosta de manuela

Anônimo disse...

só li os 2 primeiros capítulos rapidamente
ta mto melhor q mtos livros q li, bem detalhista, só q eu li o final sem querer
:mrgreen:
parabens
começa uma nova história se puder