quinta-feira, 10 de julho de 2008

Capítulo 7 - A Ópera Dos Deuses Contemporâneos

Foi por volta das onze e quinze da noite que Jóhann, Isadora e Marina chegaram, locomovidos pelo Celta Preto, na residência do jovem Luiz. Era uma pequena casa no simples Bairro Vaz de Lima, possivelmente uma das mais antigas de lá, o portãozinho amarelo parecia ter sido maldosamente maltratado pelo tempo. Isadora foi a única a descer do carro e, como não havia uma campainha, colocou as mãos entre as grades do portão e bateu palmas.
— Olááá! — gritou.
No carro, Marina, no banco de trás, já mais calma, questionava Jóhann sobre o local onde estavam.
— É aqui, Marina, que um garoto chamado Luiz mora. Ele toca folk e também tem uma certa experiência com o jazz. É, sem dúvida, uma das pessoas mais incríveis que já conheci.
— Entendi... Mas, o que vocês vieram fazer na casa dele esta hora da noite? — Marina tinha uma voz meiga e perspicaz. Era quase um deleite ouvi-la falar.
— Basicamente, viemos ver se está tudo bem com ele. E nós sabemos que o mesmo nunca está dormindo nesse horário.
— Entendo, entendo. Mas, qual seria, especificamente, a "conexão" que vocês tem com ele?
Marina constatou que sua pergunta havia sido bastante certeira. Ou Jóhann iria se esquivar da resposta ou lhe daria sem pestanejar. E o que ele fez foi mais ou menos uma mistura das duas coisas.
— A nossa conexão com ele, bela Marina, é aproximadamente a mesma conexão que temos com você. A única diferença é que ele se lembra de nós.
Marina riu.
— Você não está sendo muito claro. Por que não me diz, então, qual seria a minha conexão com vocês!?
— É, simplesmente, o fato de que... Ah, veja, ali está ele!
Jóhann apontara para o portão amarelo, cuja a fechadura estava sendo aberta por rapaz alto, magro e com longos e lisos cabelos castanhos. Dentro do veículo, Marina não podia ver o que ele conversava com Isadora.
— Ele é alto... — comentou Marina — Só que não chega a ser tão grande quanto Isadora. Aquela mulher é bizarra!
— Realmente... — concordou Jóhann — Bizarra mas genial, isso eu lhe garanto.
Ensimesmada, Marina tentou, minuciosamente, ler os lábios de Luiz e Isadora. Seus olhos pungentes e ágeis não deixavam quase nada escapar, mas a conversa parecia trivial. Desviou o olhar, mirando, desta vez, os olhos de Luiz: eram olhos cansados, com alguma cor indistinguível daquela distância, entretanto, havia uma certa falta de mesmice naquele olhar que deixou Marina estranhamente fascinada. No momento em que ela sentia esse fascínio, os olhos dele se encontraram com os dela e tudo estremeceu. Apesar disso, a sensação que Marina sentia não era exatamente boa...
— Eu o conheço. De alguma forma, eu o conheço.
— Sim, de fato — confirmou Jóhann, para surpresa da garota — Se não estou equivocado, esta é a terceira vez em que você o vê.
— Terceira?
— Exato. Na verdade, essa é a primeira situação em que você está vendo-o com clareza, já que nas outras duas ele sempre esteve envolvido por uma multidão de pessoas... A primeira vez foi no seu aniversário de nove anos e a segunda dentro de um trem.
Marina, em estado de assombro e perplexidade, interrogou Jóhann com acidez:
— Excelente, excelente. Você vai ficar me deixando com cada vez mais dúvidas e vai continuar não explicando nada. Como é possível que você conheça mais detalhes da minha vida do que eu mesma? Pára de hipocrisia, senhor Jóhann, pára de fugir, isso não é justo, eu mereço uma explicação!
O islandês, fingindo não ter ouvido nada, apanhou um CD no porta-luvas e inseriu-o no rádio. Segundos depois, a ópera Don Giovanni, de Mozart, começou a tocar.
— Adoro esta — disse Jóhann — É a obra-prima de Wolfgang, na minha opinião.
A garota dos cabelos muito cacheados revoltou-se com tudo aquilo. Tentou sair do carro, mas as portas estavam travadas. Juntou todas as suas forças no punho direito, fitou a janela da porta do lado esquerdo do banco de trás e, com bastante velocidade, esmurrou o vidro — ouviu-se um auto ruído; estilhaços de vidro espalhavam-se por todos os lados; a supostamente delicada mão de Marina sangrava, e ela, num ato inacreditável de agilidade, saltou para fora do Celta. Jóhann mal pode pensar em tentar segurá-la.
— Não sei quem vocês são — bradava Marina, fora do veículo, enquanto se preparava para correr — E, mesmo achando que seria interessante saber, prefiro não confiar!
E disparou no meio da escuridão da noite.
Meio segundo depois, Isadora olhou para Jóhann rapidamente, como se esperasse algum sinal de confirmação por parte dele. Ele, mal mexendo os lábios, murmurou:
— Faça.
E o que Isadora fez foi humanamente impossível. Ela abriu a boca e proferiu o nome "Marina" numa intensidade de decibéis tão estrondosa e ecoante que, inevitavelmente, acordaria qualquer ser humano que estivesse dormindo numa área de duzentos e cinquenta metros quadrados. Em seguida, soltou um "Volte, garota!" mais ensurdecedor ainda. Marina virou a cabeça para trás, apavorada, e tomou o maior susto de sua vida: Isadora estava bem ali, olhando-a seriamente, a menos de um metro de distância dela. Era impossível que a mulher tivesse conseguido alcançá-la em tão pouco tempo. Marina corria rápido. Só havia uma resposta.
— Vo... Você...? Como... ? — Marina via a coisa mais inconcebível do mundo acontecer diante de seus olhos.
— Volte apara o carro, querida. Por favor. — pediu Isadora.
— E... Espera aí... O que está havendo aqui? Como você veio parar aqui? Você estava lá com o tal do Luiz no portãozinho amarelo agora mesmo...
— Eu apenas escolhi onde eu quis estar.
Marina viu-se, mais uma vez, paralisada por aquele rosto extravagante de Isadora que ficava a encará-la com rispidez.
— Mas... Como você consegue fazer isso? Como você consegue ter esse poder?
A mulher dos cabelos coloridos respondeu:
— Em milênios, raramente vi olhos tão luminosos, tão profundos, tão emocionantes e tão atemporais como os seus. Você é uma dádiva, jovem Marina, uma verdadeira dádiva. A realidade é, de certo modo, uma ilusão, minha querida, e Jóhann e eu somos... Bom, nós somos deuses dentro dela!

8 comentários:

Anônimo disse...

Capítulo muito bom, serio mesmo, agora consigo ver essa história sua com outros olhos. Gostei muito, e aquele fim me lembrou matrix. ^_^

Anônimo disse...

bom, pelo jeito tb existem poderes sobrenaturais na história
cap muito bom

Anônimo disse...

Tem que tomar cuidado agora, é bem mais facil ficar de estragar uma história desse tipo sobrenatural.

Anônimo disse...

Se vc estragar uma história promissora dessa.... eu te mato

Anônimo disse...

Não esperava um lado sobrenatural na fic, achei que ia ser só drama no mundo moderno, grande reviravolta, parabéns ^_^

Anônimo disse...

Nossa!
Ficou ótimo este capitulo!
Adorei!

Jessica Anastacio disse...

[i]PUTZZ q imaginação..
gostei dos 2 cap... viaja d novo para poder escrever o 8 mais rapido...

Jessica Anastacio disse...

[i]HII desculpas, tava devendo!!
TA fikando cada vez mais emocionante!!
Quero ver como vai ser o desfecho!
tem ser tipo o ultimo livro do harry,ou do anime Kanon q quebro suas pernas..
Agora o seu mini livro tem q quebrar as nossas..^^