sábado, 14 de junho de 2008

Capítulo 4 - Chuva, Grama e Sangue

A praça estava quase vazia, possivelmente pela chuva que começava a cair por ali, Dante foi convidado por seu pai para sentar em um dos bancos, que se sentou também em seguida ao lado do filho. Dante, em sua atual situação, não sabia se sentia medo ou raiva, se gritava acusando o pai ou se corria para fugir do assassino. No fim das contas ficou ali, esperando para ouvir qualquer coisa que o pai tivesse para dizer. A mistura do vento frio e da garoa cortante embrulhava o estômago do garoto. Respirou fundo e direcionou sua atenção ao pai.
— Filho... Antes de tudo, preciso te dizer: a culpa não foi minha — aquela frase doeu em Dante como se tivesse levado um murro no pâncreas — Sua mãe não sabia o que estava fazendo e, no meio daquela reviravolta, a arma acabou disparando. Você viu, você estava lá.
Virando a cabeça e olhando o pai com fúria, Dante retrucou:
— Sim, eu vi, eu estava lá, eu vi você matando a minha mãe, foi isso que eu vi! Não sei como você ainda consegue negar isso, não é possível.
Ambos ficaram em silêncio. O Sr. Alves olhava o horizonte, pensativo, talvez chegando a perceber que não dava mais para enganar o filho, não naquela altura do campeonato. Era um homem alto, magro, e com uma constante expressão de cansaço no rosto, o que lhe dava uma aparência mais velha do que a sua idade real, trinta e nove anos. A perda de seu emprego resultou numa intensa briga de família que durou muitos meses, atingindo o ápice no dia da morte da esposa e a sua fuga. A partir dali Dante e Marina passaram a morar com os tios, mas não se passou uma semana e a irmã mais nova de Dante havia fugido, levando apenas algumas roupas e sua inseparável bicicleta.
— Dante, meu filho, você já é quase adulto, você entende o mundo, entende as coisas. Eu quero apenas fazer um acordo contigo. A nossa família acabou, não há mais o que tentar recuperar. Só preciso que você colabore, pela última vez.
— Colaborar? Colaborar?!? Pai, você está enlouquecendo? Você acha que eu vou colaborar em alguma coisa para ajudar você depois de matar a minha mãe, seu desgraçado?
— Meu rapaz, eu já estou na merda. Acabar com você não seria agradável para mim, mas eu não hesitaria se fosse necessário; quero evitar ter que sujar as mãos de novo, se você me entende. Por isso é que peço sua colaboração, nada mais. É só ficar quieto, de bico fechado, e todo mundo sai ganhando. Essa é a proposta e, como você vê, não tem muita opção.
O estômago de Dante embrulhou-se mais ainda. Tinha que pensar num jeito, numa maneira de fazer justiça, por mais que as coisas pudessem acabar meio sangrentas. O garoto rodeou o ambiente com os olhos, procurando algum objeto que pude-se ajudá-lo a abater o pai de alguma forma, mas não havia nada.
— Pai... Você é um desgraçado. O maior que já conheci — e, num ímpeto de fúria, avançou sobre o pai, derrubando na grama do parque, dando-lhe repetitivos socos no rosto e em qualquer lugar que conseguia, mas o pai era mais forte, com apenas um braço, desvencilhou-se do filho, se levantou, tirou o revólver de dentro do casaco e mirou Dante.
— Não precisava fazer isso Dante, não precisava me deixar com mais raiva.
Dante, sem temer o revólver que o pai apontava-lhe, retrucou:
— Raiva? Quem tem que ter raiva sou eu, pai, eu!
Num rápido movimento de pernas, Dante deu uma rasteira no pai, fazendo com que o ele caísse, perdendo a arma, que ficou à uns dois metros de distância dos dois. Dante ficou de pé, apanhou a arma e dimensionou-a, mesmo mal sabendo manuseá-la, diretamente para o pai. Engatilhou. Seu dedo indicador tremia no gatilho. O Sr. Alves, levantando a mão, inventou, de repente, uma mentira que, como ele imaginava, talvez imobilizaria Dante.
— Pare, filho, pare! Se fizer isso... se fizer isso nunca mais vai ver sua irmã de novo! Nunca!
— O quê?
— É o que você ouviu: só eu sei onde sua irmã está. Se você atirar agora nunca mais vai vê-la. E não adianta você me levar para uma delegacia agora, pois, por mais que você me acuse de qualquer coisa, eu negarei tudo, não existem provas de nada. Ninguém acreditará em você, seu miserável. E, além do que...
Dante puxou o gatilho. Ouviu-se um estrondoso ruído. O Sr. Alves parou de falar. Uma trovoada irrompeu no céu. O sangue, misturando-se com a grama e a chuva, parecia brilhar num tom mais vermelho do que o normal, um vermelho muito vivo, e continuou escorrendo, abrindo caminho entre as folhas verdes. Um caminho vermelho.
— Acabou, pai. Acabou.

7 comentários:

Anônimo disse...

Capítulo excelente. O pai de Dante era mesmo um mau caráter, mas talvez o que Dante fez cause algumas coisas desagradáveis, eu imagino.

Anônimo disse...

Capítulo muito bom, gostei de conhecer o passado do Dante ^_^

Anônimo disse...

Hum... Eu já esperava isso. >.< Mas prefiria que fosse diferente, por que assim ele só se tornou como o pai, não no sentido completo, mas que precisou acabar com alguem para poder vencer.
Achei que ele fosse mais maduro a ponto de pensar que não seria uma vitoria. Mas ainda assim gostei do cápitulo.

Anônimo disse...

bons capitulos
muito bom mesmo espero o proximo capitulo

Anônimo disse...

uia, que passado o do Dante
Capítulo ótimo

Anônimo disse...

Esse capítulo está ótimo, gostei muito dele, achei um pouco estranho um assassinato ali no meio do parque, mas está bem melhor e mais profundo do que os outros capítulos. (mas agora que vc nos viciou, vai ter que continuar postando até o fim da história.)

Anônimo disse...

To adorando!